terça-feira, 15 de julho de 2014

Introdução


O projeto de escrever este livro surgiu a partir da falta de um livro atual e abrangente que espelhasse o panorama da chamada “arte popular” no Brasil.
Temos o livro “O Reinado da Lua” que cobre uma parte do território brasileiro, basicamente o nordeste e foi editado no final dos anos 1980.
 
Há livros que estudam em profundidade uma região como “Noivas da Seca” de Lalada Dalglish, ou o livro “Caminhos da Arte Popular - Vale do Jequitinhonha“ de Angela Mascelani que abordam o trabalho feito no Vale do Jequitinhonha. 
 
Há livros que fazem um recorte privilegiando alguns autores como “A Teimosia da Imaginação”, iniciativa da Galeria Estação. Ou catálogos que examinam a obra de um artista específico como os textos de Rodrigo Naves sobre Artur Pereira.
 
O “Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro" é o mais abrangente de todos estes livros, mas como o próprio nome diz, é um dicionário e não um livro de arte que também retrate a diversidade e a beleza da produção que vem do dom de fazer arte que se manifesta em alguns homens e mulheres espalhados pelo território brasileiro.

Nas viagens que fiz para colher material de campo para escrever este livro, não andei praticamente pelo litoral. Apenas pelo sertão, pelo serrado, pelo agreste. E também não viajei pelo sul. Quando consultei Ana Maria Chindler e Lurdinha Vasconcelos sobre os artistas que deveriam fazer parte deste livro, o sul e o sudeste ficaram de fora.

A interferência de artistas e curadores no universo da arte popular tem sido tão marcante que pode significar uma tendência de reaproximação dos artistas eruditos com os não eruditos.
Ao contrário dos artistas dos anos 1980 que praticamente ignoraram a produção de artistas não eruditos do panorama das artes plásticas, os artistas contemporâneos têm-se reaproximado deles: fazendo curadorias, escrevendo textos ou fazendo trabalhos que levam em conta as suas raízes, como é o caso de Efrain Almeida, Emanuel Nassar ou Marepe, ou Os Gêmeos em sua produção mais recente.


A decisão de fazer um trabalho de campo entrevistando artistas, galeristas, críticos de arte entre outros é produto da minha experiência profissional. Durante muitos anos trabalhei com pesquisa qualitativa na área de marketing. Sempre entrevistei grupos ou pessoas individualmente e fiz a análise do material colhido. Por esta razão estou aplicando a minha experiência profissional em uma outra área que me apaixona.

Edna Pontes